Não é dificil estarmos atentos à realidade que nos rodeia noutros países. Temos acesso a várias fontes de informação, e a vários meios para analisar-mos a validade dessa informação. E quando a informação é um facto, então a análise é mais facilitada.
Ver hoje a China e a India como potencias económicas e politicas no concerto das nações, é um facto inegável. Ao falar sobre este dois países, temos que ter em atenção, algumas realidades que são inegáveis - a sua evolução tecnológica, o aumento da sua capacidade produtiva e os seus indicadores macro-económicos.
Segundo dados da revista "Economist", a China atingiu 10,7% de crescimento económico interno (PNB) em 2006, prevendo-se um crescimento do PNB, em média, de 8,62% até 2011. A actividade economica chinesa está assente, com mais de 50%, na Indústria, nomeadamente na industria transformadora e extractiva. O governo chinês tem efectuado, desde 1984, uma reforma económica que se aproxima fortemente do sistema capitalista, embora a presença do Estado na economia seja muito forte.
A emergência da China já não é somente uma previsão económica ou geopólitica, é um dado adquirido e cada vez mais sentido, nomeadamente em termos comerciais. Também vale a pena referir o cada vez maior intervênção da China no sistema de Cooperação Internacional, com o financiamento através de contractos-programa em Angola, Moçambique, São Tomé e Principe e Cabo-Verde, só para sitar estes países.
A China encontra-se no coração politico e geográfico da Ásia, faz fronteira com 14 Estados, é membro permanente do Concelho de Segurança da ONU, tem 9,6 milhões de km2 que se estendem sobre os mais de 4000 km desde as suas fronteiras orientais até às suas fronteiras ocidentais. Outro poderoso elemento estratégico, é a sua diversidade de recursos minerais (carvão, gás natural, petróleo). A China é o unico país do mundo que têm 4 mil anos de história ininterrupta, com uma civilização milenar.
Não me restam dúvidas sobre as potencialidades económicas da China Mas parafraseando um ditado popular espanhol "Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!", este gigante económico sofre de carências estruturais, mesmo no campo económico. A economia chinesa não tem um sistema bancário e bolsista semelhante aos que existem nos países-membros da União Europeia ou nos Estados Unidos da América. Tem um sistema desorganizado, sustentado por decisões estatatais; a título de exemplo, muitas familias chinesas ainda não se habituram a depositar dinheiro nos bancos e a investir em titulos e instrumentos financeiros.
Não devemos esquecer que a China vive sobre um regime de partido único à largas dezenas de anos - o Partido Comunista Chinês. Por muitas máscaras e cenários de desenvolvimento económico que se criem, um país que vive com liberdade de expressão política e cultural limitada, não consegue progredir socialmente, não consegue criar gerações que tenham espaço para evoluir ideológicamente e culturalmente.
A índia apresenta sinais e um historial de desenvolvimento, nos últimos 20 anos, semelhantes à China. Consegui apresentar resultados macro-económicos bastante favoráveis, com um crescimento do PNB, entre Março de 2006 e Março deste ano, de 8,4%, segundo dados da Organização Central de Estatíticas da India.
Podemos caracterizar a economia indiana, como uma economia dualista com sectores primários a enfrentar dificuladades de produção e de escoamento dos seus produtos, mas com um desenvolvimento cada vez mais acentuado em sectores tecnológicos, como por exemplo a indústria de Software. Esta industria tem contribuido para a criação de emprego, constituido por técnicos de elevadas qualificações, e tem sido também um polo de atracção de investimento estrangeiro. A Microsoft é um desses casos.
Estou certo que a Índia apresenta indicadores económicos que alimentam, de facto, a imagem de uma potencia regional cada vez mais forte e politicamente interventiva. Mas a Economia (seja como teoria seja como prática) não vive isolada das restantes dimensões de qualquer sociedade. o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2005 coloca a Índia como um país de desenvolvimento médio, atrás de países como Cabo Verde, Egipto ou Colombia. Com situações de pobreza, alto nível de desemprego e baixos níveis de IDH, o governo indiano precisa definitivamente implantar mecanismos para redução da burocracia fiscal e das barreiras de entradas para o investimento directo estrangeiro. A Índia ainda apresenta debilidades caracteristicas de um país em vias de desenvolvimento, nomeadamente ao nível do saneamento básico nas zonas urbanas e rurais, na excessiva concentração populacional em volta dos grandes centros urbanos, na desiguladade do género e alguma marginalização poltica e social das mulheres, etc.
Tanto a China como a Índia, são dois países que devemos continuar a observar durante as próximas décadas. O seu potencial de crescimento económico está provado, mas falta a sua sustentação e consequente alcançe de um patamar sólido de desenvolvimento humano, nas suas vertentes económica e social. Os governos dos dois países são actores importantes neste processo de crescimento, mas não cabe únicamente aos políticos e governantes desses países assumirem essa resposabilidade. Para atingir níveis de desenvolvimento sustentável, todos os actores são necessários, universitários, empresários, intelectuais, médicos, juristas, operários, etc. Não devemos esquecer que a maturidade democrática (semelhante a alguns Estados europeus) é, do meu ponto de vista, um elemento essencial para que este dois países deixem de ter pés de barro.