Sunday, December 21, 2008

De G8 para GR5


Esta crise internacional está a ter alguns reflexos na distribuição de poderes do mundo, ainda que não directamente visíveis. A divisão de forças económicas está a sofrer alterações relativamente lentas, com mudança de um mundo unipolar (com a concentração de algumas grandes decisões nas mãos das sucessivas Administrações Americanas), para um mundo tendencialmente, e cada vez mais, Multipolar, com a balança de poderes dividida, de forma trípartida, entre o Continente Americano, a Euro-Ásia e o Pacifico. Obviamente, que nestes espaços continentais, existem algumas nações que se destacam no chamado Concerto das Nações, nomeadamente a Alemanha, a França a Inglaterra, o Japão, a China, a India, o Brasil, o México, a Argentina, e naturalmente os Estados Unidos da América.

A imagem que ilustra este texto, é de 1983 numa década em países como os Estados Unidos, a Alemanha, a França, a Inglaterra e o Japão, dominavam a economia e as finanças mundiais. Nela estão a primeira-ministra Margaret Tatcher, o presidente Ronald Reagan, o Chanceler Helmut Kool, o presidente Miterran, e o primeiro-ministro do Japão, da altura. Estavam reunidos para mais uma reunião do G7, em Williamsburg, no Estado da Virginia, nos EUA. Durante as décadas de 70, 80 e 90 o grupo dos países mais ricos do mundo era denominado por G7, sendo que nos últimos anos, e com alguma recuperação económica e estratégica da Russia, a designação mudou para G8.

Em tempos de crise, é comum a demonstração de actos solidários, e de politicas que tentem superar as dificuladades económicas que, em regra, afectam sempre os indivíduos e as familias com menor capacidade económica. Uma solidariedade grupal é mais eficaz e forte do que uma solidariedade índividual. Pelas inciativas que os grandes Estados, o grupo do Banco Mundial, e a União Europeia estão a tomar, penso que irão surtir efeitos dentro de dois ou três anos. Até lá os principais indicadores económicos na generalidade dos países, irá atingir valores deficitários.

Uma das coisas que, do meu ponto de vista, penso que falharam na regulação económica mundial, foi a crença de as economias a partir de uma certa altura podem-se regular a elas próprias. Esclareço, que não sou partidário da supremacia do Estado sobre a actividade económica, e do seu total controlo da parte dos governos. Mas a génese (perdõe-me se estiver errado) foi um adormecimento e escesso de confiança da parte dos decisores politicos, no sistema financeiro e na crença de que quanto mais liberal fosse mais forte se tornava. O liberalismo económico foi destorçido num dos países que o devia porteger de forma saudável, os EUA. Tornou-se num sistema libertino, onde vigorava a libertinagem financeira. Exemplos disso mesmo: as falencias irresponsáveis da Morgan Stanley, os enormes empréstimos hipotecários nos EUA, etc.,.


A sigla GR5, que não existe nos termos a que me vou referir, poderá ser aplicada ao conjunto dos principais blocos económicos que dominam as actuais relações económicas internacionais, e que se destacam, também por ser espaços de livre circulação interna de pessoas, produtos e de serviços, entre os vários Estados-membros que os compõem. Existem cinco grandes blocos económicos: a União Europeia (UE), o NAFTA (Northen American Free Trade Agreement)), o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), a ASEAN (Association of Southeast Asian Nations) e a SADC (Southern African Development Community).

A grande maioria das pessoas sabe, ou pelo menos já ouviu falar, o que é a UE. A sua actual dimensão ultrapassa o campo económico, sendo actualmente um espaço de partilha de decisão politica e social também. Sendo o bloco económico, na sua génese, mais antigo do mundo, é também o mais desenvolvido a nível institucional, estando perto de ser uma União Politica Federal, como pretendiam os fundadores da Comunidade Ecómica Europeia (CEE) em 1951 no Tratado de Paris. Actualmente, a UE é constítuida por 27 Estados-membros, sendo um três maiores blocos comerciais. O facto de ter orgãos politicos e jurídicos supra-nacionias (como o Parlamento, a Comisssão ou o Tribunal de Justiça das Comunidades), é outra das caracteristicas que destacam face aos outros blocos económicos.

Da NAFTA fazem parte os Estados Unidos da América, o Canada e o México. O seu estádio institucional, assenta na liberalização das relações comerciais entre estes três países. Numa continuidade de fortalecimento das trocas comerciais entre os EUA e o Canadá, o México tornou-se um dos primeiros signatários deste acordo em 1994, que entre outros objectivos, visa: aumentar os projectos de investimento entre os seus Estados-membros; eliminar as barreiras alfandegárias no espaço consedido pelo acordo; ou ainda diminuir a imigração clandestina oriunda do México em direcção aos EUA.

Outro bloco económico que se tem vindo a destacar no cenário económico internacional, é o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Constituido pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, estes países formam a cupula governativa das relações económicas e comerciais desta União Aduaneira. A Venezuela, encontra-se em situação de processo de adesão desde 2006. Também podem participar em reuniões ministeriais e de chefes de Estado do Mercosul, outros Estados Sul-americanos a titulo de Estado Associado, sem direito de voto nos processos de decisão dos orgãos institucionais do MERCOSUL. Deste conjunto de Estados Associados fazem parte Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru.

A ASEAN engloba alguns países que tem vindo a ter uma posíção relevante na económica da zona do Pacifico, e com um certo peso junto de organizações internacionais como, por exemplo a OMC. É o caso da Indonésia, em que, não é por acaso que o Secretariado Permanente da ASEAN está sedeado em Jacarta, a capital deste país. Criada em 1967, visa celerar o crescimento econômico e fomentar a paz e a estabilidade regionais. Para além da Indonésia, também são membros de pleno direito: Singapura, Malasia, Tailandia, Vietnam, Brunei, Laos, Camboja, Filipinas, e Mianmar. Timor-Leste e Papua Nova-Guiné têm o estatuto de membros observadores. O Japão, as duas Coreias e a China não se encontram aleanadas do funcionamento da ASEAN, tendo estabelecido protocolos de cooperação, assim como com a União Europeia.

Criada em 1992, com o fim da Conferência para o Desenvolvimento da África Austral (Southern Africa Development Co-ordination Conference - SADCC), a SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral). Politicamente dominada por países como a África do Sul, Angola e Moçambique, esta comunidade ainda não se encontra ao nível das restantes comunidades já aqui mencionadas. As intenções politicas dos governos dos seus 14 Estados-membros, mantêm-se; mas para que se iniciei verdadeiramente um processo de criação de um verdadeiro bloco económico, são necessárias mais do que meras intenções políticas, que muitas vezes nem saiem do papel. A região da África Central (até ao sul do continente) tem recursos minerais, agricolas e naturais, que podem potencializar muito a importância económica e politica da SADC perante o resto do mundo, mas para isso é necessário uma politica de concertação económica que até agora tem falhado. Ainda persistem alguns conflitos internos e problemas sociais graves, como recentemente no caso do Zimbábue.

Do meu ponto de vista, e também com as mudanças de estratégia económica surgidas pela actual crise que o mundo industrializado vive, penso que os blocos económicos deviam ter mais peso nas Relações Internacionais, indo até ao ponto de, ao nível do Conselho de Segurança da ONU, os países membros serem substituidos por blocos permantes. Bem sei que esta proposta pode não ter muitos adeptos, mas numa mundo em que os governos estão a deixar de ter poder de decisão politica e de gestão económica e financeira dos seus Estados, as entidades supra-nacionais como a Comissão Europeia, tem uma maior capacidade de intervênção poltica e económica nas suas áreas de influência geográficas directas, com também com capacidade para influenciar outros blocos económicos e países com menor expressão politica mundial.

Talvez dentro de alguns anos, surja a expressão GR5....porque, actualmente, já existe o seu sentido politico e económico.

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