Sunday, November 16, 2008

Será necessário o sindicalismo?



A mudança nas organizações é algo que não acontece de forma célere, sem conflitos, nem oposições. E quanto mais antigos forem os seus pressupostos, formas de actuação e crenças, assim como também a força do seu enraizamento, mais difícil se torna a transformação, a mudança e adaptação a novas formas de pensamento e de visão do mundo. Os sindicatos, genericamente, fazem parte deste “retrato”.

O título é suportado por uma dúvida – será que as organizações sindicais, como estão hoje organizadas e, tendo em conta as suas formas de actuação, e objectivos, são agentes de desenvolvimento e de mudança para um mundo melhor?

Esclareço que não sou partidário do desaparecimento dos sindicatos, mas apoio a sua adaptação às novas realidades laborais e económicas, que tem vindo a ser desenvolvidas nos últimos 30 anos, e de forma mais recente em Portugal, há cerca de 20 anos.

A imagem e a forma de actuação que os sindicatos em Portugal revelam pode não ter mudado muito desde o 25 de Abril de 74, mas houve alterações. Alterações essas, num sentido global, que indicam a perca de força negocial e o peso que os sindicatos tinham em diversos sectores da economia, principalmente ligadas à Industria. Desde a segunada metade da década de 80 (do passado secúlo) que a força sindical tem vindo a dimuinuir em sectores onde tradicionalmente tinha bastante representação. Tal diminuição pode ser explicada por factores como: demasiada ligação entre partidos políticos e sindicatos; surgimento, e aumento, das formas atípicas de contratação (Recibos Verdes, Contratação a Termo, Outsourcing, etc); transformações na estrutura empresarial portuguesa que levou ao aumento de PME’s, em parte, devido à saída de muitos trabalhadores das grandes empresas (casos como os da Secil, e da Setenave,). Estas são as três grandes razões para explicar a diminuição da força sindical em Portugal, e de maneira semelhante em outros países.

Uma realidade que se observou na maioria dos países da UE, onde se inclui Portugal, é que nosa últimos 10 - 15 anos os sindicatos passaram a defender os interesses de grupos profissionais ligados à função pública, em que o expectro da Modernização Administrativa e do emagrecimento da estrutura dos organismos públicos, é a avalanca para que os sindicatos ligados ao trabalhadores da Função Pública (na UE, em termos gerais), ganhassem mais voz e atenção da parte da comunicação social. Um exemplo, concreto e actual é a actuação de sindicatos dos professores em Portugal, que protestam contra o modelo de avaliação de professores que o Ministério da Educação tem tentado implentar. Esta actuação de sindicatos ligados à Função Pública contrasta com a actuação de muitos sindicatos ligados à Industria, Pescas e Agricultura, que durante a década de 70 e 80 tinham mais força e poder de negociação. Entre 1974 e 1995, os sectores Primário e Secundário, perderam, respectivamente, 97 mil e 275 mil efectivos sindicais, e o Sector Terceário (que inclui a Função Pública, Serviços, Comércio e sector hoteleiro) representavam 698 mil efectivos sindicais em 1978, e em 1995 eram 726,9 mil. Actualmente, mais de 50% dos efectivos sindicais pertencem ao sector terceário, e dentro deste conjunto muitos deles representam grupos profissionais integrados em organismos da Administração Central do Estado e em Autarquias Locais.

2 comments:

A.Paulo said...

Olá Miguel,

Concordo quando referes que os sindicatos dos dias de hoje não servem os reais interesses desta sociedade e acrescento ainda se me permites, que a sua partidarização dogmática acaba por desacreditar o conceito de revolução social contra a luta de classes que lhe deram origem no séc.XIX.
O que este país precisa não é de grupos que camuflam interesses políticos através de "peregrinações" contra a seriedade e respeito pelas profissões, alegando a protecção dos mais desfavorecidos, sem contribuir activamente para o seu real desenvolvimento.
Que propostas foram concretamente apresentadas pelos grupos sindicais em alternativa ao processo de avaliação dos professores que tanto tem aceso as praças dos últimos tempos?
Que medidas são apresentadas na preparação dos nossos jovens para enfrentar a frieza que o liberalismo emergente do Mundo em globalização lhes propõe?
O que nos faz falta, é antes a atitude, o carácter, a motivação, os valores, o respeito pelos outros, a dignidade de aceitar a nossa condição cultural "sui genere" e dar um passo qualitativo em frente, assumir as nossas responsabilidades e não ter medo de dizer Sim quando nos parece correcto da mesma forma que dizemos Não, quando não aceitamos o que nos incomoda.
Não basta reclamar sem fundamento, apenas porque nos pôem à prova! A melhor forma de fazer valer a nossa posição é validá-la através dos resultados obtidos. A isso sim, eu chamo de verdadeira evolução social!

Miguel Miranda said...

Obrigado pelo teu comentário António!

O entendimento que faço do papel dos sindicatos também vai no mesmo sentido da opinião que manifestas-te.
Os sindicatos, nomeadamente em Portugal, ainda estão agarrados a formas de actuação e de pressupostos politicos e ideológicos que não se adequam à realidade actual.
E, em relação às forças sindicais mais activas neste momento, de que é um exemplo mediatico os sindicatos do sector da educação, estão a defender, em geral, uma ideia pouco benéfica para eles próprios - o verdadeiro receio de serem avaliados.